Usando a comunicação para alinhar expectativas e melhorar relações
Certa vez, dias após um workshop que ministrei em uma multinacional, um aluno, gestor da empresa, me confidenciou que colocou em prática o contrato psicológico que aprendeu. Ele buscava alívio para uma incômoda relação com um de seus liderados. Contou que convidou o funcionário para uma conversa e começou pedindo desculpas por não ter sido um bom líder e que gostaria de ouvir dele – funcionário – o que esperava da sua liderança. Ouviu, reconheceu e, em seguida, pediu permissão para dizer o que ele – o líder – esperava da equipe e, especificamente, daquele colaborador. Ao me contar, de repente, surgiu no rosto um sorriso. Era reflexo da alegria que ele teve ao descobrir que a interpretação que tinha feito do funcionário estava errada e que os dois eram mais parecidos do que poderiam imaginar. O que veio depois foi o nascimento de uma nova relação, pautada em respeito, empatia e confiança.
Assim como esse, já vi alguns mal-entendidos serem desfeitos nas empresas com o uso do contrato psicológico, ou como prefiro chamar, alinhamento de expectativas. E isso é comunicação!
Quando a gente é contratado ou contrata alguém, existe lá o contrato redigido com carga horária, salário, obrigações, direitos. Mas existe também um outro contrato que a gente estabelece dentro da nossa cabeça quando passa a se relacionar com as pessoas daquela empresa. É o contrato psicológico!
O tema foi pesquisado pelo professor da Harvard Business School, Chris Argyris, na década de 1960. Esse contrato se refere ao que esperamos do outro além das regras e conduções que estão dispostas em um papel, em um aviso formal. Essa expectativa é criada a partir do que vemos e interpretamos no outro e no contexto, por exemplo, como espero que o colaborador se comporte nas reuniões ou como espero receber as diretrizes do meu líder. Porém essas interpretações não costumam ficar claras e levam ao desentendimento ou frustração por não ter atendido o que se esperava.
Mas por que criamos expectativas se elas podem nos levar a frustrações? Freud dizia que o ser humano está o tempo todo buscando prazer e fugindo do sofrimento. Se isso é verdade, imagino que criamos expectativa na tentativa de antecipar o que virá a diante, podendo assim encontrar o prazer – se espero encontrar no outro uma satisfação – ou evitar o sofrimento – se receio que o outro possa me ferir.
O problema é que não temos todo esse controle que gostaríamos de ter. Nossa visão de mundo é limitada às nossas experiências passadas que são base para as interpretações que fazemos dos outros e das situações. A expectativa pode ser, muitas vezes, uma armadilha que nos impede de ver a realidade e nos leva às frustrações.
A saída dessa armadilha está em uma boa comunicação!
Quando duas (ou mais) pessoas estão dispostas a dialogar, se abrem para dizer o que esperam uma da outra e o que podem ou querem entregar uma à outra, a gente já sabe o que esperar. Saímos do achismo e agimos baseados no que está, agora, alinhado, o que gera um ambiente de confiança, de compromisso, de parceria.
Isso vale para qualquer relação, inclusive de casais. Tem um livro famoso que ganhei do meu marido e gosto de indicar para os alunos: As 5 linguagens do amor, de Gary Chapman. O autor explica de forma simplificada as muitas formas que temos de sentir que somos amados. Tem até um teste para identificar qual linguagem entendemos como amor: receber presente, ser tocado, ser servido, ser elogiado, ter a atenção do outro. É legal quando o casal faz o teste e conta ao outro o resultado. Aí é só ir à sessão do livro que explica a linguagem do cônjuge para ter umas dicas de como falar ou o que fazer para expressar o amor ao outro. Eu, sinceramente, acho que existem muito mais linguagens e até mesmo a mistura delas, mas fiz o teste e posso dizer que é um bom começo para buscar entender o que a gente espera do outro e dizer isso pra ele, assim como ouvir dele o que espera da gente.
Para concluir, um alerta: alinhar expectativas não é criticar o outro, nem dizer o que ele não faz, mas sim falar de nós mesmos. É dizer: “é importante pra mim que tal coisa seja feita porque...” ou “gostaria de ser reconhecido por fazer tal coisa...” e até reconhecer vulnerabilidades, como “tenho dificuldade de lidar com crítica, mas a sua opinião é importante pra mim...”. Em seguida, como propõe a Comunicação Não Violenta, podemos fazer um pedido: “posso contar com a sua ajuda?”, “você pode me dar feedbacks mais frequentes?” ou “me ajuda a receber sua opinião sem me sentir criticado?”.
Que tal experimentar?
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